quarta-feira, 30 de julho de 2014

Um encontro com a dor


Entendiada, bateu a porta atrás de si e caminhou até o portão preto.
Olhou pra rua e deu um suspiro. Um ou outro caminhava por ali.
Deu um passo pra chegar até a calçada e subiu no muro azul bebê. A tinta já estava descascando e o cinza tímido dava o ar de sua graça entre as pernas da menina.
O vento brincava com seus cabelos, mas ela não queria brincar. Fez um rabo de cavalo, cruzou os pés e pousou as mãos no muro, ao lado de seu corpo e suspirou.
Deixou seu olhar se perder no fim da rua até que percebeu olhar uma casa branquinha com a porta de madeira e uma janela aberta que parecia ser uma tela de cinema.

A mãe amamentava o bebê enquanto buscava uma posição melhor na cama. Quando uma criança surge correndo e pula na cama. Era um garotinho que beijava o rosto da mãe e acariciava a cabeça do bebê.

Uma lágrima surgiu...
A saudade bateu forte.
Não. Não podia estar acontecendo.
Ela tinha decidido não se entregar a angústia.
Ela não queria saber o que era a dor da perda.
Não queria lembranças.
Não queria sentir o cheiro de lavanda que sua mãe usava após o banho da manhã.
Não queria recordar o toque das mãos em seu rosto e os braços que a acalentavam.
Não deseja ouvir nunca mais as canções que ouvia quando era pequena. Embora ainda fosse tão menina.

De um salto seus pés tocaram no chão com firmeza e correram pela rua sem destino.
O choro foi mais forte que ela e sua visão ficou tão embaçada que não se deu conta que já tinha entrado na casinha branca que ficava distante de sua casa.

Uma criança a recebe com sorriso e chama por sua mãe: "Visita, mamãe! Visita!"
A mãe surge no corredor e fecha a porta atrás de si.

A menina anestesiada e chorando não entendia o que fazia ali.
A mulher emocionada abriu os braços para recepcionar a garota que está bem a sua frente.

A menina recua.
A mulher dá um passo à frente.

A menina para.
A mulher se inclina até que seus olhos sejam o horizonte dos olhos umedecidos que estava diante de si.

-"Você não está só, querida.
Que bom que enfrentou os seus medos e a sua dor.
Que bom que veio até aqui."

-"Sinto falta dela..." - e chorou compulsivamente.

A mulher a abraça e o garotinho agarra suas pernas desejando consolá-la também.

Um minuto se transformou em eternidade.
O abraço tocou a sua alma.
Suspiro e lágrimas.

A irmã gêmea de sua mãe era a memória da dor e da tristeza, mas também, da alegria e das boas lembranças...

E tudo que restou foi a saudade...

Só a saudade...








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