quarta-feira, 29 de julho de 2015

Música para os meus ouvidos


Ela podia contar seus verdadeiros amigos nos dedos de uma única mão e sabia conviver em harmonia com a solidão. Aprendeu desde pequena que o pouco é muito e que o muito é pouco. Também aprendeu a valorizar momentos que muitos não dão importância e sendo observadora conseguia, muitas vezes, não pegar atalhos na estrada em que escolhia caminhar...

Então, em um daqueles dias em que a solidão e o silêncio se faz presente, ela decidiu abrir a vitrola empoeirada que há tempos estava encostada na parede perto da janela e escolheu um vinil. Olhou a capa como se fosse um retrato de alguém da família. Tocou com as pontas dos dedos a capa que fora rasgada em seu topo pelo tempo. Nada disso tinha importância pra ela; as músicas contidas naquele velho vinil seriam lembranças resgatadas por um mergulhador de memórias no oceano que se encanta com as maravilhas da vida que existem no fundo do mar.

Deixou a capa descansando no sofá, colocou o vinil na vitrola e colocou a agulha na faixa 3. Levantou, tirou os sapatos com os próprios pés e dançou. A pequena sala se tornou o jardim que um dia tinha visto em uma de suas visitas à Inglaterra e a música invadia a sua alma de tal forma que ela se pegou rindo como se estivesse rodeada de flores e pássaros de todas as sortes. Ela acreditava que a música tinha o poder de encontrar algo que em algum dia, momento se perdera. Quem podia contestá-la?

A música estava terminando quando ela se ajoelhou perto da vitrola, suspirou, olhou pela janela e avistou um arco-íris lindo que trazia paz na disputa de força entre o sol e as nuvens. Ficou ali, perdida em pensamentos ao som de outras canções que a embalavam quando acontecia quando pequena.

Dormiu.

E o sono a presenteou com um sonho onde as canções que ela jamais ouvira tocavam através da chuva e borboletas coloridas de vários tamanhos dançavam ao seu redor. Seu sono foi tão gostoso que decidiu não acordar. E atravessou o portal da eternidade levando consigo o que há de belo na vida: a música...


segunda-feira, 27 de julho de 2015

Vou te contar um segredo

Por favor... Não conte nada a ninguém


Vou te contar um segredo

Mas peço que não o conte a ninguém

Estava sentada no alto de uma pedra

Ouvindo o mar cantar

O sol aquecia minha pele gostosamente

Uma lágrima correu sem eu esperar

Cansada de procurar fui encontrada

Cansada de chorar... Sorri

Quanto tempo meu coração já não acelerava!?

Quanto tempo adormeci!?

Eu estava lá no alto da pedra

Ele estava caminhando na praia

Teria sido o raio de sol o nosso cupido?

Ou foi o mar que o tomou pela mão e o trouxe pra mim?

Por que deveria me preocupar em descobrir?

A troca dos nossos olhares formaram a ponte

Ele já não estava mais lá e sim, aqui

Vou te contar um segredo

Mas peço que não o conte a ninguém

Quando o amor chegar não espere por festas e alardes

Permita que ele te surpreenda

Que ele te encontre no alto da pedra

Que o sol seja a testemunha desse encontro

E a canção do mar a música desse amor

Vou te contar um segredo

Mas peço que não o conte a ninguém

O amor é a fonte da juventude

E dessa água quero sempre beber



segunda-feira, 13 de julho de 2015

O conto da noite

Ela sabia que sua liberdade e sonhos tinham a sua alma como parceira...




Olhou pela janela e tudo que podia ver era uma rua estreita de paralelepípedos iluminada pela lua cheia. Não havia ninguém, exceto um rapaz que caminhava enquanto tocava uma canção linda com sua gaita.

Era uma noite que tinha um gosto de nostalgia. Não uma nostalgia triste. Não...

Era uma noite daquelas que guardam mistérios e emoções que ficaram perdida em algum canto do passado. Sem uma data definida. Sem um horário marcado.

A lua parecia transbordar os sentimentos que não cabiam nela. Estava emudecida com o brilho que havia lá fora. Encantada com as notas musicais que eram entoadas e se perdiam naquela noite solitária.

Ela sentiu vontade de sair e dançar. Queria que o vento beijasse sua face e brincasse com os seus cabelos. Queria sentir o orvalho da noite tocar seus pés. Ela queria... A cadeira, não.

Tantos desejos e sentimentos guardados em seu peito...

Tantos momentos sonhados e jamais compartilhados...

A cadeira era a sua prisão, mas a sua alma era livre.

Acordada sonhava.

Dormindo realizava seus sonhos.

Sonhava em dançar na chuva, correr com as crianças que a olhavam pela janela no final da tarde, abraçar e sentir o coração do outro bater junto com o seu ou simplesmente andar ao lado daquele moço da gaita...

Tudo que ela tinha eram os seus sonhos e isso a cadeira já não podia roubar.

Mas quando menos se espera, a vida nos prega uma surpresa e com ela não foi diferente.

Ao fechar a janela e puxar a cortina amarela de flores coloridas percebeu que a realizações de seus sonhos não esperaram por seu sono e logo ouviu-se uma batida na porta.

Cautelosa e ansiosa perguntou quem estava ali e ouviu uma gaita tocar.

- Não... Não pode ser! - sentiu borboletas no estômago e as mãos trêmulas tocou a maçaneta e diante de si estava ele.

Ele a convidou para um passeio e ela mostrou a cadeira. Ele mostrou os seus pés.

Ele a observara há tempos e decidiu fazer uma serenata não em sua janela mas na janela de sua alma: olho no olho. Então, construiu uma bota onde as pernas dela seriam colocadas junto as pernas dele e ele a conduziria. Ela só precisaria segurar firmemente na cintura dele enquanto caminhavam na noite ao som da gaita.

Mas quem diria... As crianças ainda estavam acordadas e quando a viram correram em sua direção e quando se deu conta, todos brincavam de roda e o vento beijou a sua face e brincou com seus cabelos.

Ela sorriu.

Ela sorriu e chorou.

Ela descobriu que a cadeira já não era a sua prisão e como todos ao seu redor, ela também era livre e a deficiência que carregava consigo era só uma vírgula diante dos pontos de exclamações que surgiam em cada detalhe de cada surpresa acontecia.

A noite foi longa. E não, não foi um sonho.

Ela descobriu que haviam pessoas que olhavam além de seus mundos e que além desses mundos havia espaço pra todo mundo.

Todo mundo!

***
Texto que escrevi para o Scriber







quarta-feira, 1 de julho de 2015

Só mais uma vez...


Daria tudo para ver o seu sorriso mais uma vez
Suas covinhas tímidas que cavam um sorriso no meu rosto

Daria tudo para ver o brilho dos seus olhos mais uma vez
A profundeza do seu olhar desnudava minha alma

Daria tudo para ouvir o som da sua voz mais uma vez
O aconchego de suas palavras e a mansidão da sua tonalidade

Daria tudo para caminhar ao seu lado mais uma vez
Andar sem perceber que o tempo passou tão rápido

Daria tudo para ouvir aquelas canções que nos emocionavam tanto
Só mais uma vez

Daria tudo para te abraçar mais uma vez
Como se o lugar mais seguro que houvesse estivesse em seus braços

Daria tudo para ficar sentada em silêncio ao seu lado mais uma vez
E sentir seu respirar como notas musicais

Daria tudo para ter suas mãos nas minhas mais uma vez
E ver o medo lançado fora

Daria tudo para sentir o seu perfume daquele final de tarde mais uma vez
Quando as nossas conversas foram além e descobrimos que o amor era recíproco

Daria tudo para viver ao seu lado mais uma vez
Mas você se foi e o que ficou já não se pode tocar
Só recordar
Mesmo que seja só mais uma vez